sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O pato do deserto

Pensar em pingüins, aqueles simpáticos bichinhos que parecem estar sempre usando fraque, é pensar em gelo, frio e neve. Ninguém jamais seria capaz de imaginar o Picolino em uma história do Pica-Pau no velho-oeste, ou no deserto. Com certeza, com base nesta verdade absoluta, Ricardo, ao se deparar com o primeiro pingüim do parque Punta Tombo, a maior “pinguineira” da Argentina, não tenha conseguido acreditar no que via. Tamanho foi o espanto que acabou sendo mais plausível criar uma nova espécie, ou sub-espécie, para classificar aquele animalzinho que se escondia do calor infernal em um buraco na terra. “Pingüim meu ovo. Isso aí um pato do deserto”, sentenciou Ricardo. Mas, após caminhar pelo lindo parque, e entre centenas de “patos do deserto”, o jovem Tinoco se convenceu que, sim, eram pingüins que ali estavam para passar as férias de verão.

Punta Tombo foi uma agradável surpresa, já que, na programação original, iríamos passear pela Península Valdés. Mas, por conta dos novos cálculos e da readequação na rota, acabamos mudando também o rumo de nosso passeio daquele dia 26/12, quando saímos de Puerto Madryn (após uma sessão de fotos pelo calçadão da praia e uma parada na casa de câmbio). Do parque dos patos do deserto, continuamos nossa descida pela Ruta 3, com destino a Ushuaia. Nossa parada naquela noite, muito provavelmente, seria em Caleta Olivia, já dentro da província de Santa Cruz (uma antes da Terra do Fogo).

Mas, da cidade de Trelew para baixo, descobrimos uma nova Argentina. Além do calor que era de derreter bico de pingüim, a estrada passava por nada e lugar algum. A partir daquele ponto também, conhecemos a importância de se transitar com dinheiro em espécie. Quanto mais se desce no território argentino, mais raro são os postos de combustível que aceitam cartão de crédito, a não ser em cidades grandes – ou turísticas.

Além disso, o clima de savana da Ruta 3 naquele trecho, somado aos sopetões de vento laterais, fizeram com que diminuíssemos nossa velocidade de cruzeiro.

Com todo o desgaste do dia, e mesmo com a recomendação negativa de nosso guru e oráculo Marcão (o Barba) para a cidade de Comodoro Rivadavia, acabamos ficando por lá mesmo naquela noite. Mas antes, tentamos (sem sucesso) encontrar um lugar para pernoitar em uma pequena cidade 10km à frente (Rada Tilly). E mesmo com a ajuda de uma simpática moça que nos escoltou até duas opções de pousada, acabamos fazendo meia volta. Um honesto hotelzinho de beira de estrada foi nosso recanto. “Será que erramos o caminho e estamos indo para a África?”, foi o último pensamento antes do merecido sono naquela abafada noite.

Perna Longa

De São Paulo a Goiás em um só dia. É o equivalente ao que a intrépida equipe da Expedição 4x4 ao Fim do Mundo rodou no dia do Natal. Saímos bem cedo de Tres Arroyos, às 8h30 da matina, e paramos lááááá em Puerto Madryn, já bem no meio da Argentina. Após mais de 900km de estrada e o relógio batendo as nove badaladas da noite. Tamanha foi a pernada que atravessamos um fuso horário e só fomos dar conta quando chegamos. Além de toda a disposição e empenho dos integrantes dos dois carros, para tirarmos o atraso dos últimos dias, a duração da luz natural ajudou bastante. Por aqui, só começa a escurecer perto das 22hs. E, assim sendo, passamos mais de meio dia dentro da Monstra.


Durante este longo trajeto, percebemos que de tudo se pode fazer dentro de um carro, com amplo espaço, como a Band do Artur. Troca de roupa, preparo de lanche, pista de dança, sala de alongamento, varal de secagem e uma confortável cama de solteiro (um solteiro com as medidas do Celso, claro). É interessante perceber que, conforme as necessidades surgem, somos capazes de nos adaptar às condições das situações. A troca de roupa talvez seja o mais simples. Agora, transformar o carro em varal de roupas, e fazer dele uma copa para o preparo de lanches, não é para qualquer um, amigo! Encontrar os locais onde o vento entra não é o mais difícil (aliás, na Monstra é coisa tranqüila!), mas deixar as peças dispostas pelo painel, retrovisores e banco, do jeito correto para que fiquem secas, calculando velocidade e ângulo de entrada do vento e tempo de exposição das peças, é tarefa digna de engenheiro (ainda bem que a equipe possui um!).


Igualmente desafiador é a preparo de alimentos com o carro em movimento. O famoso chef Alex Atala tiraria o chapéu para os petiscos confeccionados com um pequeno prato, uma faca (ou melhor, um facão à lá Rambo!), um punhado de torradas, um pote de manteiga, uma peça de provolone e uma bisnaga de patê de presunto. E assim, cruzamos um bom pedaço do território argentino. Todo ele dentro da Ruta 3, uma das estradas mais famosas – e longas – da Argentina. Só para se ter uma idéia do tamanho da encrenca, ela começa em Buenos Aires e termina no Parque Nacional da Terra do Fogo, em Ushuaia (onde é o nosso ponto final antes da volta). São mais de 3 mil quilômetros só de Ruta 3. Outro detalhe que vale ser comentado: a qualidade das estradas. Apesar de a maioria delas ser de mão-dupla, a boa qualidade do asfalto predomina (não chegam a ser um tapete, mas são boas de rodar). Além disso, são poucos pedágios. Baratos (por volta de $ 2,20 pesos argentinos cada) e vão até um pouco antes da região de Bahia Blanca, cidade conhecida por ser a porta de entrada da Patagônia.


E quando mal percebemos já estávamos em Puerto Madryn, uma cidade muito bem ajeitada, presenciando um belíssimo pôr-do-sol. Nos hospedamos em um albergue bacanudo! O famoso bom, bonito e barato. E pronto, por hoje chega. Como diria o Pernalonga: “por hoje é só, pessoal!”.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Natal é no YPF

A rede de postos YPF é, provavelmente, a maior da Argentina. Postos com a marca azul e branco (não coincidentemente as cores da bandeira nacional deles) são encontrados até nas menores comarcas e povoados do país. Sendo assim, fica fácil imaginar que estes locais rapidamente se tornaram uma espécie de porto seguro para nós. Um lugar amigo, e que se tornaria ainda mais inesquecível para nós de hoje em diante.

Rápido parêntese feito. Nossa rotina de levantar cedo seguiu. Pulamos da cama, tomamos um bom café, fizemos as arrumações diárias necessárias e mais asfalto. A idéia era não parar enquanto o sol estivesse no céu! E assim se fez. Fizemos apenas paradas para abastecer os carros, e alguma esticada nas canelas, muito suadas já que a Argentina no verão é tão quente quanto Recife ou Fortaleza (mais uma descoberta!). A partir daquele ponto, uma preocupação começou a nos ocorrer: quanto mais para baixo no mapa fossemos, mais difícil seria encontrar postos de gasolina, e lugar para hospedagem, que aceitariam cartão de credito. Ou seja, o bom e velho papel moeda seria cada vez mais importante. Começamos então um racionamento!

Assim, em nossa parada em uma “estación de servicio” em Lobos, contamos com a ajuda de um frentista que, de motoca, nos guiou até a casa de câmbio dentro da cidade. Uma linda cidadezinha que ficava 1km pra dentro da estrada. O problema é que dia 24/12 costuma ser a véspera de natal, pelo menos em países predominantemente católicos. Ou seja, o câmbio teria que ficar para depois do natal. Nesse momento também lembramos que existia o papai-noel. E que não sabíamos onde esperaríamos por ele. Problema logo solucionado, quando paramos para abastecer na cidade de Tres Arroyos.


Ali encontramos uma turma de brasileiros, gaúchos, que estavam tocando o mesmo trajeto, porém, com um Fusca (e, claro, carros de apoio!). Ali no YPF também, se confirmou o talento do Ricardo em atrair simpáticos velhinhos ávidos por dar informações úteis para a viagem. Com todo o espírito natalino que se formou, decidimos então que ali, na loja de conveniência YPF, faríamos nossa ceia de natal. Brinde com suco de laranja e sanduíches de queso y jamón, e fomos para dentro da cidade encontrar onde seria nossa pousada natalina. Como antes descrito, em uma véspera de natal não é lá tarefa muito fácil encontrar um lugar para esticar os ossos. Encontramos um hotel bem aconchegante, um pouco caro, mas que aceitava o cartão de credito. Tudo bem. Um merecido luxo como presente de natal.

De Volta para o Futuro

Todo mundo pra fora da cama cedo! Afinal, em 23/12 era o dia de chegar onde já deveríamos estar. Café e estrada. Antes, uma parada na aduana para obter todo e qualquer tipo de papel e carimbos para se entrar – e sair – do Uruguai.


Tudo em mãos, paramos em um posto policial, logo na entrada de Rivera (cidade uruguaia na fronteira com Livramento), para checar com o pessoal ali se estávamos corretos com a papelada. Com um pouco do nosso blábláblá ganhamos a simpatia dos oficiais, que logo deixaram suas expressõ

es sisudas e, com sorrisos, tiraram fotos conosco. Agora era tocar para frente e enfrentar o guarda mais correto da polícia uruguaia. Os 300 e poucos quilômetros até a aduana passaram como um suspiro.

Na fila aduana, todo o filme do dia anterior passou pela mente dos cinco. Tínhamos papéis suficientes para ir dali até Vladivostok, mas o frio na barriga de dar algum “jazz” era inevitável. Chegou a nossa vez. O mesmo guarda, com um sorriso amarelo e irônico, nos recebeu no guichê. “Viram só, como é muito melhor ficar dentro da lei? Tenho certeza que vocês aprenderam a lição”, disse ele em tom de professor do primeiro grau que aplica um corretivo nos alunos traquinas. “Sim, senhor. Aprendemos”, respondemos com um sorriso mais amarelo que a camisa “branca” do Ricardo, que havia 3 dias não saia do seu esguio corpo. Ainda uma rápida inspeção com um mal humorado guarda, que mais lembrava um possível irmão portenho do Dani DeVito.

Na saída, claro, comemoramos a vitória! E de volta a estrada. Afinal, agora teríamos que readequar nosso planejamento, pois tivemos todos os contratempos da Sol (enóide) e da trombada e volta na aduana Uruguai/Argentina. Descendo pela estrada, rumo ao máximo que conseguíssemos atingir, conhecemos o que os toyoteiros que nos passaram dicas se referiam sobre policiais argentinos, especialmente na região de Entre Ríos, muito próxima a Buenos Aires.


Uma pequena parada na estrada e um guarda conseguiu “encontrar uma infração”. O adesivo de 80km/h na traseira das 2 Bands, segundo ele, deveria ser refletivo. Mas, estávamos munidos de toda a papelada do consulado brasileiro, e dicas dos amigos toyoteiros! Mais um pouco de portunhol e os guardas se convenceram que não estavam lidando com nenhum José Ruela! Ainda assim, um deles teve a cara de pau de perguntar se não tínhamos nenhum “trocado”. Deixamos algumas moedas, desejamos feliz natal e tocamos o barco.


Quando achávamos que dali tocaríamos até o Ushuaia sem escala, mais um pequeno pormenor. Um congestionamento. Digno de fazer inveja aos da nossa 23 de Maio às 19hs. Felizmente, foram “apenas” 30 minutos parados – com o motor desligado. Anselmo, com seus malabares e dotes circenses, garantiu a distração de todos, inclusive dos curiosos que caminhavam entre os carros e caminhões parados. Via liberada, fomos em frente. O sol por aqui, ainda bem, demora a cair nessa época. Então, conseguimos tocar um pouco mais para frente, até a cidade de Zarate, nossa primeira parada na Argentina. Uma cidade que, com algumas outras, forma um grupo que rodeia a Grande Buenos Aires. E naquela noite, todas entraram em grande balbúrdia, por conta da conquista do título de campeão do Boca Juniors. E quando o assunto é futebol, argentinos são tão fanáticos quanto nós. Ah, e um pouco antes de entrarmos em Zarate, usamos pela primeira vez o galão de reserva, para garantir que chegaríamos ao posto mais próximo.


E lá neste posto, conhecemos uma frentista muito figura, que brincou e tirou fotos conosco. Mesma figura que encontramos em uma pizzaria onde jantávamos, na frente do hotelzinho bacana que ficamos. A “fiesta” então estava engatilhada. Mas a responsabilidade falou mais alto, e fomos para a caminha dormir o sono dos justos. Afinal, o dia tinha sido cheio até chegarmos onde já deveríamos estar.

Déjà vu


Mais um dia que começou cedo. No dia 22/12, um café no botequim, abaixo do hotel, e antes mesmo das 8hs tocamos pra frente. Uma perna longa estava planejada para cruzarmos os 300 km do Uruguai e pararíamos já na Argentina! Em Santana do Livramento, última cidade brasileira antes da fronteira com o Uruguai, um simpático casal, de carro ao nosso lado no farol, fez questão de nos dar um salve. “Não deixem de ir a Perito Morenooooo...”, gritou a esposa com a cabeça toda para fora da janela.


Durante a viagem, já dentro do Uruguai, Celso comentou que tinha uma sensação de déjà vu. Talvez fosse o piso quadriculado do boteco em São Gabriel, que remetia aos botequins de São Paulo, como o Pirajá e o Filial. O Uruguai é um pequeno país. Quase do tamanho da Casa Verde, aprazível bairro italiano na zona norte de São Paulo. Cruzamos em poucas horas os 300 e um alguns quilômetros até a fronteira com a Casa Verde. Ou melhor, Uruguai.


Ali, na aduana de saída e entrada na Argentina, uma ducha de água fria nos nossos ímpetos. Ou melhor, gelada. Muito gelada. Percebemos que nem todo lugar se entra e sai com tanta facilidade. Um pequeno detalhe, um pequeno papel, não permitiu nossa saída do Uruguai, tampouco entrada na Argentina. A imigração entre Brasil e Uruguai não é feita na fronteira, como em países normais – e organizados. A única coisa que funcionava corretamente era o oficial da aduana uruguaia. E com ele não teve choro, cunversê, portunhol ou o que fosse. Não pudemos entrar. Ou melhor, nem sair. Era dali pra trás. Voltar a Livramento, na fronteira, e pegar o tal papel de imigração de turistas (e torcer para a fiscalização da estrada ser nula como na ida). Antes da saída com a amarga sensação de derrota, Deco deu uma rezinha em um carro atrás dele na fila. Sorte, eram brasileiros (eita praga que está em toda parte!).


Aprendemos a lição. E não podíamos deixar o samba morrer, pois ainda seriam mais uns 4 mil quilômetros até nosso objetivo. Durante a volta, olhando para a mesma estrada pela segunda vez no mesmo dia, a sensação de Deja Vu, então, se confirmou. Chegando em Livramento, uma churrascada por preço de ocasião e uma boa noite de sono, garantiu o gás para o dia seguinte!

As serras gaúchas e o sistema digestivo

O segundo dia começou cedo, com um café reforçado por volta das 7hs. Tudo colocado nos carros e pontualmente às 8hs a caravana partiu rumo ao Rio Grande do Sul. Um trajeto que não permitiu a mesma velocidade média do dia anterior, por conta dos trechos de serra. Mas, de qualquer forma, um visual muito bonito durante o percurso.

Uma pausa. Vale a pena comentar uma pequena parada que fizemos, antes mesmo de sairmos de Santa Catarina. Como dito, o café da manhã foi reforçado. O que significa barriguinha bem alimentada. O processo de digestão varia para cada organismo. O do companheiro Deco, naquele dia, estava em um processo mais acelerado – talvez por conta das emoções e da ansiedade da partida no dia anterior. Após exatos 60min da partida, a Band dos irmãos Deco e Anselmo piscou farol alto para nos e encostou. Rapidamente fizemos uma volta para averiguar se precisaríamos ajudá-los. Não seria preciso. Deco, que correu para o outro lado da estrada, em uma valeta atrás de um morrinho, tinha nas mãos um pequeno rolo que já seria o suficiente para resolver o problema. Risadas e de volta a estrada.

Quando se pensa no sul do Brasil, a idéia que se tem é de que o frio será o clima predominante. Então beleza, casaquinho a tiracolo! Mas assim que rodamos os primeiros quilômetros rumo ao Rio Grande do Sul ele voltou para a mala. No primeiro posto em que paramos para abastecer, o frentista sentenciou: “bah, tchê. Nessa época do ano aqui faz mais calor do que no Saara”. Após a readequação de roupas, volta pra estrada. Muito calor. E paramos em um pequeno posto alguns quilômetros a frente para garrafas d`água e uma refeição completa. Ou, como diz o Artur, a refeição dos campeões. Pança cheia e mais asfalto. Dessa vez o organismo do Deco se adequou bem ao ritmo.

No meio da tarde, com o sol começando a dar trégua, mais uma parada para Gatorades e águas. No posto, o simpático guri Mateus nos abordou para uma rápida conversa sem sentido, típica das crianças da idade dele, e nos ensinou a expressão “xispa”. Dali, tocamos para o máximo que poderíamos, com o sol e a disposição.

Por volta das 20h30, com sol começando a se por, encostamos na cidade de São Mateus para tirar dinheiro. Ali, na praça central, percebemos que uma festa acontecia. Uma rápida reunião e decidimos ficar por ali para passar a noite. Encontramos um hotel honesto, na parte de cima de um barzinho. Lugar melhor não haveria. Banho, algumas cervejas e empadas engorduradas, uma rápida visita ao centrinho para ver o movimento e cama! Antes de deitar, Deco fez uma última visita ao banheiro.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Minha filha, Sol

Pensar no nome que se dará aos futuros filhos é uma brincadeira que todo mundo, em algum momento, já fez. Às vezes, dependendo da situação, alguns nomes chamam a atenção, e é aí que se tem certeza: “taí, vou dar esse nome pro meu filho”. Solenóide, por exemplo, é um nome interessante para se dar a uma menina. Um nome forte, imponente. Um nome tecnologicamente respeitável, como diria o Rei do Elogio.


Solenóide. Uma pequena peça de ferro com uma mola retrátil, tão pequena quanto uma bala de carabina, responsável por cinco paradas no primeiro trecho da viagem. Mas nem ela, nem as paradas, nem a trabalheira logística da montagem do carro na madrugada e nem o pouco sono, foram suficientes para desanimar os ansiosos viajantes


A expedição teve inicio às 6h20, do dia 20/12 (sábado) com um pouco de atraso em relação ao planejamento, no posto Ipiranga da Avenida dos Bandeirantes. Depois do encontro com Deco, seu irmão Anselmo e a Branca de Neve (apelido da Toyota da dupla), pegamos a estrada rumo ao sul do Brasil. A idéia inicial era percorrer 1200km, indo direto a Porto Alegre.


Tudo corria bem, com Artur guiando a Monstra (carinhoso apelido que deu para sua Toyota), Ricardo e seu chapéu de Crocodilo Dundee como co-piloto e Celso, seu par de tênis xadrez, algumas sacolas de miojo, chocotones, bisnaguinhas e mochilas, repousando os olhos no banco traseiro. Foi então que a Solenóide começou a dar o ar da graça. Nas três primeiras paradas, o diagnostico era o de mangueira de combustível com entrada de ar.


Porém, como após o almoço, em Curitiba (perto das 14hs),oproblema insistia em, meticulosamente, ocorrer a cada 45min, uma ação um pouco mais enérgica, bem ao estilo viking, se fazia necessária


Então, por volta das 17h45, e após impressionantes cinco paradas, tiramos na unha a pequena peça que nos atrasava. Vibramos como legítimos guerreiros nórdicos e seguimos viagem.


A partir de então, e como não era mais possível atingirmos nosso destino inicial, decidimos descer o máximo que agüentaríamos para tentar tirar o atraso. E após uma parada para abastecimento, às 21hs, um pequeno acidente entre as duas Bandeirantes deixou claro que era hora de descansarmos. Em uma lombada mal sinalizada, bem na saída do posto, Anselmo (que nos seguia com a Branca de Neve) e Artur (com a Monstra puxando o pelotão) precisaram fazer manobras bruscas para que não ocorresse uma colisão em nossa traseira que, fatalmente, encerraria ali mesmo, e tão prematuramente, a viagem. Apenas um susto, um pára-choque traseiro ligeiramente contundido e um retrovisor precisando de afago.


Dali, tocamos sutilmente até Lages (SC), onde fizemos nossa primeira parada. Encontramos um hotel por volta das 22h30 e estacionamos os carros para entramos na pousada e encontrarmos o merecido repouso.


Enquanto fazíamos nosso registro, notei um rapaz assistindo TV com uma menininha dormindo em seu colo. Em tom de voz baixo, comentei com Artur: “Que gracinha. Poderia se chamar Solenóide”.